Os animais, como criaturas de Deus, sempre
estiveram presentes na história da humanidade desde o episódio da criação. O
que surpreende é que o próprio Espirito Santo se utiliza da figura de uma
pomba, mostrando o grande mistério de Deus de forma incompreensível para os
seres humanos.
Um momento forte do Novo Testamento é quando o
Espírito Santo aparece em forma de pomba no batismo de Jesus. (João 1,32). São
muitas as aparições do Espirito Santo, não só nas escrituras, como também aos
santos através dos séculos.
Já no século III, São Cipriano de Cartago, fala
sobre a descida do Espírito Santo em forma de pomba e menciona a simplicidade e
pureza dos pombos:
"Por isto também o Espírito Santo desceu em forma
de pomba [Mt3,16; Mc 1,10], animal simples e alegre, sem amargura alguma de
fel, incapaz de se enfurecer; não morde, não arranha com as unhas. Prefere as
moradias dos homens e gosta de habitar numa mesma casa. Quando criam, as pombas
cuidam dos filhotes juntamente, quando viajam, voam pertinho umas das outras.
Passam o tempo em tranquilos arrulhos, manifestam a concórdia e a paz
beijando-se no rosto. Enfim, em todas as coisas seguem a lei da boa harmonia.
Esta é a simplicidade que deve reinar na Igreja,
essa a caridade que devemos realizar: o amor fraternal imite as pombas, a
mansidão e a brandura sejam iguais às dos cordeiros e das ovelhas.
Como podem estar no coração de um cristão a
ferocidade dos lobos, a raiva dos cães, o veneno mortífero das serpentes ou a
crueldade sanguinária das feras?
Devemos alegrar-nos quando os que têm esses
sentimentos se separam da Igreja. Assim as pombas e as ovelhas de Cristo não
serão contagiadas pela sua maldade e pelo seu veneno. Não podem conciliar-se e
juntar-se amargura e doçura, trevas e luz, chuva e céu sereno, guerra e paz, esterilidade
e fecundidade, secura e manancial, tempestade e bonança.
Não acreditem que os bons possam deixar a Igreja:
não é o trigo que o vento carrega, o furacão não arranca as árvores que têm
sólidas raízes. Ao contrário são as palhas vazias que a tormenta agita, são as
árvores vacilantes que a força dos turbilhões abate. Contra esses o apóstolo
São João manifesta a sua repulsa, dizendo: "Saíram do nosso meio, mas não
eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, sem dúvida teriam ficado conosco"
(1Jo 2,19).