A demissão abrupta e inexplicável do bispo de Tyler, Joseph Strickland, acusado de nada em particular, provocou a reação de poucos entre seus colegas. Um desses poucos é o "incorrigível" bispo holandês Rob Mutsaerts, que dedica um post a ela, que reproduzimos abaixo.
Por Carlos Esteban
A renúncia do bispo norte-americano Joseph Strickland da diocese de Tyler, no Texas, continua a ser uma história estranha. Strickland é conhecido por ser um bispo humilde, equilibrado e amigo da igreja. Ele também é cumpridor da lei, e é por isso que aceitou a demissão. Sua reação não foi de hostilidade em relação ao Papa. Ele simplesmente pede orações e que permaneçamos fiéis à Igreja.
Houve uma visitação e Strickland foi convidado a renunciar. Ele não. O pastor não queria abandonar seu rebanho. Nenhuma acusação específica foi apresentada. Strickland nem teve a chance de dar seu lado da história. O Papa Francisco costuma agir assim: simplesmente assina a decisão. Como o Papa é a autoridade máxima, nenhum recurso ou defesa é possível. Um procedimento canônico seria apropriado. É extremamente raro ser privado de um processo canônico. Estes são métodos que poderíamos esperar na Coreia do Norte ou na Roma de Nero. E não parece haver razões válidas. Strickland tem visões tradicionais e ocasionalmente critica o curso dos acontecimentos no Vaticano. Aparentemente, isso é o suficiente para que ele seja expulso de seu quartel-general em Tyler. De onde sai aquela Roma da igreja sinodal, da igreja que escuta, da igreja da misericórdia? Roma age completamente ao contrário do que proclama.
Sua demissão é ainda mais estranha se você olhar para a situação em outras partes da Igreja: bispos que encobriram abusos sexuais, ou olhar para a loucura da Alemanha, onde as diretrizes de Roma são abertamente contraditadas, com bispos proclamando heresias. Tudo é tolerado. Só no caso Strickland serão tomadas medidas drásticas.
Alguns na diocese de Tyler disseram que estavam descontentes com o bispo Strickland. Que coisa. Não há uma única diocese no mundo onde todos estejam felizes com seu bispo. As queixas eram principalmente ad hominem. Strickland continua a pregar que devemos permanecer fiéis à fé da Igreja. Ele considera a Tradição Apostólica de grande importância. Essa sempre foi a posição da Igreja. Mas algo está muito errado na igreja hoje. Roma fez do diálogo com o mundo secular uma prioridade máxima. Na verdade, nossa tarefa é fazer o trabalho missionário no mundo secular. Mas a última coisa que devemos fazer é tomar posições seculares contrárias ao Evangelho. Roma realmente tem uma obsessão pela modernidade. Enquanto isso, não ouço ninguém falar de nossa principal atividade: a salvação das almas. Pouco ou nada foi discutido no sínodo sobre a sinodalidade. Os resultados parecem melhores do que se temia. Não, o sínodo não fala de doutrina. Mas abre-se um fosso entre a doutrina e a prática pastoral. Esse é o ponto: permitir na prática "por razões pastorais" o que a doutrina desaprova. Roma está colocando a fasquia cada vez mais baixa. Devemos fazer o contrário: elevar a fasquia, aproximar-nos de Deus.
Há motivos para estar preocupado, não triste. Pensemos por um momento no bispo Atanásio, que sozinho se opôs à heresia ariana e ainda assim venceu o debate. Ou John Fisher. Ele foi o único bispo na Inglaterra que se recusou a assinar o Ato de Supremacia, o único bispo que não rompeu com a Igreja Católica Romana. Morreu mártir, mas a Igreja Católica Romana sobreviveu. Pensemos, é claro, no primeiro colégio apostólico. Lemos sobre a primeira aparição deles juntos no Evangelho de Marcos: "Todos o abandonaram e fugiram" (Mc 14,50). Exceto um: João. Vai ficar tudo bem. Deus tem a última palavra. É a sua Igreja: a Igreja una, santa, católica e apostólica. Nenhum concílio, pai de igreja ou santo acrescentou a palavra "sinodal". (Fonte: InfoVaticana)