O cardeal norte-americano Raymond Burke fez uma crítica detalhada à "retórica populista", muitas vezes "ligada à linguagem usada pelo Papa Francisco", "slogans de uma ideologia que substitui o que é insubstituível para nós: a doutrina e a disciplina constantes da Igreja".
Por Carlos Esteban
Burke, um dos dois cardeais sobreviventes dos quatro que apresentaram a famosa Dúbia na Amoris Laetitia, publicou na internet um texto intitulado "Disciplina e Doutrina: Direito ao Serviço da Verdade e do Amor", onde destaca o que considera um processo que mina a "disciplina canônica" da Igreja.
Esta "crise" nasce dos mesmos erros "inspirando uma revolução moral e cultural em que a lei natural, o ethos moral da vida individual e da vida em sociedade, é questionada em favor de uma abordagem histórica em que a natureza do homem e a própria natureza já não gozavam de qualquer identidade substancial, mas apenas de uma identidade mutável, e às vezes ingenuamente considerada progressista", escreve.
Encorajados pelas reformas do Código de Direito Canônico, canonistas e teólogos heterodoxos começaram a questionar o direito eclesiástico; "O chamado 'Espírito do Vaticano II', que era um movimento político divorciado do ensinamento e da disciplina perenes da Igreja, agravou muito a situação", diz. Essa corrente de questionar ou rejeitar a lei da Igreja é auxiliada por "retórica populista sobre a Igreja", disse Burke.
"Nos últimos anos, a lei e até a própria doutrina têm sido repetidamente questionadas como um impedimento para a efetiva pastoral dos fiéis. Grande parte da turbulência está associada a alguma retórica populista sobre a Igreja, incluindo sua disciplina", diz ele, acrescentando que "também foi promulgada uma nova legislação canônica que está claramente fora da tradição canônica e questiona confusamente aquela tradição que serviu fielmente a verdade da fé com amor".
Continuando, o prelado cita pontos chave do papa Francisco, afirmando que tais palavras têm sido empregadas dentro da Igreja de uma forma que parece substituir o "insubstituível", isto é, "a doutrina e a disciplina constantes da Igreja". Nos últimos anos, certas palavras, por exemplo, "pastoral", "misericórdia", "escuta", "discernimento", "acompanhamento" e "integração" têm sido aplicadas à Igreja de forma algo mágica, isto é, sem uma definição clara, mas como slogans de uma ideologia que substitui o que para nós é insubstituível: a doutrina e a disciplina constantes da Igreja.
Observando que algumas dessas palavras "têm um lugar na tradição doutrinária e disciplinar da Igreja", Burke advertiu que, em seu uso atual, "agora são usadas com um novo significado e sem referência à Tradição".
Por exemplo, a pastoral é agora regularmente contrastada com a preocupação com a doutrina, que deve ser o seu fundamento. A preocupação com a doutrina e a disciplina caracteriza-se como hipócrita, querendo responder friamente ou mesmo violentamente aos fiéis que se encontram em situação moral e canonicamente irregular. Nessa visão errônea, a misericórdia se opõe à justiça, a escuta se opõe ao ensino e o discernimento se opõe ao julgamento. ... A perspectiva da vida eterna é eclipsada em favor de uma espécie de visão popular da Igreja, na qual todos devem se sentir "em casa", mesmo que sua vida cotidiana seja uma contradição aberta com a verdade e o amor de Cristo. (Fonte INFOVATICANA)