Importância da Confissão Frequente
Na semana passada falei na Rádio Roma Libera sobre a arte que se aproveita dos próprios defeitos segundo os ensinamentos de São Francisco de Sales. Ora, essa arte, essa atitude espiritual que nos ajuda a vencer o desânimo toda vez que caímos, pressupõe a prática de um sacramento hoje muito esquecido: a Penitência.
Por Roberto De Mattei
Atualmente nos templos há longas filas no momento da comunhão, mas não há filas nos confessionários. A confissão é encurralada porque não só o sentido do pecado foi perdido, mas também a consciência de que existe um Deus que julga nossos pecados. A comunhão é entendida como um ato coletivo que nos coloca em sintonia com a comunidade cristã, enquanto a confissão é vista como um sacramento desprovido da dimensão comunitária, porque é entendida, com uma atitude muito reducionista, como o encontro com um homem isolado, o sacerdote, que é muito difícil ver como um representante de Deus. O fato de os sacerdotes muitas vezes receberem os penitentes de maneira amigável e familiar fora do confessionário favorece essa interpretação do sacramento que é mais humana do que divina.
Por isso, é importante ter em mente algumas verdades fundamentais. Penitência ou Confissão é o sacramento instituído por Jesus Cristo para absolver os pecados cometidos após o Batismo. Através do Batismo, o pecado original é destruído e o Reino de Deus é instalado no homem. Mas a ferida do pecado original permanece e, através da fraqueza de seu coração e carne, o homem sucumbe continuamente ao mal. Que ninguém pense que está livre do pecado. São João afirma que se, como fazem alguns hereges anticristãos, que se declaram imunes a toda culpa, disséssemos que estamos sem pecado, estaríamos nos enganando (1 Jo 1,8). Embora haja pecadores na Igreja, a Igreja em si não é pecadora. Ela é sempre santa e imaculada em si mesma.
Jesus Cristo conferiu aos sacerdotes a faculdade de absolver os pecados e restaurar a graça perdida em Seu tribunal. A penitência é o tribunal de Cristo, em cujo lugar age o confessor (Jo 20, 22-23). É claro que é um tribunal de misericórdia, o único em que o infrator é sempre absolvido.
De qualquer forma, seria um erro pensar que o único propósito da confissão é absolver dos pecados cometidos. O sacramento da Penitência tem um grande valor substancial e uma eficácia extraordinária para o desenvolvimento da vida cristã. (Cf. Antonio Royo Marín, Teologia da Perfeição Cristã, BAC, Madrid 1962, pp. 416-422). Com este sacramento cultiva-se o espírito de penitência, indispensável na vida cristã quotidiana.
O espírito de penitência é uma virtude sobrenatural que nos faz arrepender-nos dos pecados cometidos, com a intenção de purificar a alma deles. Neste espírito, o homem procura aderir mais intensamente à glória de Deus, que se baseia na morte e ressurreição de Cristo. Há muitas formas de penitência, mas a mais elevada e eficaz é a sacramental. De qualquer forma, não deve ser visto como algo isolado e autônomo; Deve ser visto como a coroação de um espírito que deve permear a vida de cada cristão. O sacramento da Penitência foi instituído por Deus com a intenção de praticarmos a penitência. Sua instituição pressupõe o exercício de uma virtude. E, por sua vez, essa virtude encontra sua expressão no sacramento.
A penitência pressupõe contrição e arrependimento dos pecados. O Concílio de Trento define contrição como "dor da alma e detestação do pecado cometido, com o propósito de não pecar no futuro" (Sessão XIV, cap. 4). Tal contrição é um dos elementos necessários para a validade da confissão. Além de nos lavar dos pecados, o sacramento da penitência aumenta muito a força da alma, infundindo-a com energia para vencer a tentação e força para cumprir o dever. E como essas forças tendem a diminuir, é necessário renová-las com confissão frequente.
A comunhão frequente é uma prática louvável, mas não pode ser dissociada da confissão frequente, mesmo que seja de meros pecados veniais. Por isso, Nossa Senhora de Fátima pediu à Irmã Lúcia que a comunhão de reparação nos primeiros sábados do mês fosse precedida ou seguida de confissão dentro de uma semana.
Em sua encíclica Mystici Corporis de 29 de junho de 1943, Pio XII refutou as falsas afirmações daqueles que negam a utilidade da confissão frequente dos pecados veniais. "É verdade que, como bem sabeis, veneráveis irmãos, estes pecados veniais podem ser expiados, de muitas e muito louváveis maneiras; mas, para progredir todos os dias com maior fervor no caminho da virtude, queremos recomendar com grande seriedade o uso piedoso da confissão frequente, introduzida pela Igreja não sem inspiração do Espírito Santo: com Ele só se aumenta o autoconhecimento, cresce a humildade cristã, confronta-se a mordacidade e a indolência espiritual, purifica-se a consciência, fortalece-se a vontade, realiza-se a salutar direção das consciências e aumenta-se a graça em virtude do próprio sacramento".
O sacramento da Penitência é uma arma de combate para o católico militante. Consiste, sem dúvida, de modo particular em ser sacramento contra o pecado (cf. Michael Schmaus, Dogmatica cattolica, vol. IV/1, Marietti, Torino 1966, p. 481).
Só aceitando este combate contra o mundo, o Diabo e a carne (Ef.6, 10-12) podemos compreender o significado do Terceiro Segredo de Fátima. Mas foram extintos quando entraram em contato com o esplendor que irradiava para ele da mão direita de Nossa Senhora. E apontando para a terra com a mão direita, o anjo exclamou em voz sonora: 'Penitência, penitência, penitência!'" (Fonte: Adelante La Fe`)