Por Paulo Roberto Campos
A Santa Igreja celebra neste ano três importantes efemérides relacionadas a um grande Papa, que foi também um grande defensor da Fé, um grande Santo. Falamos de São Pio X. 110 anos de seu falecimento, em 20 de agosto de 1914; 80 anos da exumação de seu corpo, encontrado incorrupto, em 19 de maio de 1944; 70 anos de sua canonização por Pio XII, em 29 de maio de 1954.
O governo pontifício de São Pio X (1903-1914) foi marcado pelo profundo combate que empreendeu com inteligência e destemor contra os erros que se infiltravam na Igreja, sobretudo os erros do modernismo, heresia dissimulada e perniciosíssima para a Cristandade e com muitos traços semelhantes ao progressismo impulsionado maximamente pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), convocado por João XXIII e encerrado no Pontificado de Paulo VI.
Eis que em nossos dias o progressismo (dito católico) atinge o clímax na tentativa de "modernizar" e deturpar os dogmas, o Magistério perene e as tradições católicas — tradições majestosas que tanto aborrecem os progressistas "teólogos da libertação".
O Movimento Modernista pretendia uma reforma na Igreja sob o pretexto de uma suposta necessidade de renovações, de progresso e de seguir as leis da evolução nos costumes e até na Fé.
De uma bondade e afabilidade angelicais em relação aos filhos fiéis da Igreja, entretanto de uma firmeza e intrepidez igualmente angélicas, São Pio X primeiramente repreendeu e exortou os seguidores de tal movimento à conversão, acolheu os convertidos e depois — não obtendo o arrependimento — os condenou com vigor como um Anjo empunhando a espada de fogo da ortodoxia.
No Decreto Lamentabili sane exitu, de 3 de julho de 1907, São Pio X condenou formalmente 65 proposições modernistas relativas à natureza da Igreja, à revelação, aos sacramentos, à divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, a erros na exegese da Sagrada Escritura e na interpretação de dogmas.
Inimigos ocultos no próprio seio da Igreja
Como nem com o Decreto nem com as medidas mais suaves os modernistas não se emendaram, mas continuaram arrogantes na conduta e obstinados no erro, dois meses depois o Romano Pontífice se viu obrigado a tomar medidas mais severas. Aprofundou a problemática, escrevendo sua magistral Encíclica sobre os erros do modernismo, a Pascendi Dominici Gregis, de 8 de setembro de 19072, que marcou profundamente os ambientes católicos e intelectuais do século XX.
Considerado como sendo um dos maiores lances na História da Igreja, o documento, redigido com 'mão de ferro sob luvas de pelica', fulminou a artimanha, uma verdadeira conspiração interna concebida pelo Movimento Modernista que visava debilitar a Religião Católica apresentando-a não tanto como obra divina, mas humana, ou de meras concepções filosóficas.
A fim de contestar os erros do modernismo, afirma o santo autor:
"Exige que sem demora falemos, é antes de tudo que os fautores do erro já não devem ser procurados entre inimigos declarados; mas, o que é muito para sentir e recear, se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se destarte tanto mais nocivos quanto menos percebidos.
"Aludimos, Veneráveis Irmãos, a muitos membros do laicato católico e também, coisa ainda mais para lastimar, a não poucos do clero que, fingindo amor à Igreja e sem nenhum sólido conhecimento de filosofia e teologia, mas, embebidos antes das teorias envenenadas dos inimigos da Igreja, blasonam, postergando todo o comedimento, de reformadores da mesma Igreja; e cerrando ousadamente fileiras se atiram sobre tudo o que há de mais santo na obra de Cristo, sem pouparem sequer a mesma pessoa do divino Redentor que, com audácia sacrílega, rebaixam à craveira de um puro e simples homem".
São Pio X estigmatizou tal heresia como sendo a "síntese de todas as heresias":
"Não se trata de doutrinas vagas e desconexas, mas de um corpo uno e compacto de doutrinas em que, admitida uma, todas as demais também o deverão ser. Por isso, também quisemos servir-nos de uma forma quase didática, e nem recusamos os vocábulos bárbaros, que os modernistas adotam. Se, pois, de uma só vista de olhos atentarmos para todo o sistema, a ninguém causará pasmo ouvir-Nos defini-lo, afirmando ser ele a síntese de todas as heresias".
Erros do Modernismo serpeavam nos meios católicos