Os doze graus do orgulho

21/08/2024

Não é incomum ter que ouvir aquele absurdo de que a fé impede o pleno desenvolvimento da capacidade de raciocinar. Páginas e páginas foram preenchidas sobre o assunto, demonstrando que a realidade é exatamente o oposto: a fé ilumina o intelecto e nos abre a perspectivas de conhecimento que não alcançaríamos sem ela. Não vou insistir nisso. Limitar-me-ei a partilhar convosco o que descobri no livro de Ernesto Olá, Fisionomias dos Santos, no capítulo que o autor dedica a São Bernardo.

 Por Jorge Soley

O que descobri lá é um exemplo concreto da penetração psicológica muito profunda do santo. Uma bela visão dedicada aos seus monges, mas que pode ser aplicada a todos os estados e situações e que parece, aliás, ter sido escrita para os nossos dias.

Olá refere-se a um texto de São Bernardo, o Tratado sobre os Vários Graus de Humildade e Orgulho, e nos explica quais são os doze graus de orgulho:

  1. Curiosidade (as curiosidades, não os studiositas).
  2. Leveza de espírito, como quando "a excelência de que se orgulha entrega os orgulhosos a uma alegria infantil».
  3. A alegria inepta, que quer ser admirada.
  4. A ostentação: "Se eu não falasse, eu explodiria... Ele antecipa perguntas, respostas sem ser perguntado, ele se faz as perguntas e respostas. Como é fácil conhecer alguém assim!
  5. A singularidade: "Durante as refeições, ele olha para as mesas e, se vê outro monge comendo menos do que ele, lamenta ser favorecido: então ele se poupa do que antes pensava ser indispensável para ele, porque teme a perda de sua glória mais do que os tormentos da fome. Ele assiste na hora de dormir e dorme no coro. O importante é ser diferente, único (na Catalunha, por exemplo, sofremos de uma praga de pessoas orgulhosas desse tipo).
  6. Arrogância: "Não é que no que ele diz e faz ele acredite que ostenta sua religiosidade, mas que ele sinceramente se considera o mais santo dos homens." Olá fica surpreso aqui com a notável observação de São Bernardo: é uma arrogância sincera, os orgulhosos estão convencidos de que o que atribuem a si mesmos é verdade.
  7. A presunção: "Se o monge que atinge o sétimo grau de orgulho não é eleito antes quando chega a ocasião, ele diz que seu abade tem ciúmes dele ou que ele foi enganado". Eles podem mudar antes de diretor, secretário-geral, ministro, arcipreste ou qualquer cargo que desejarem.
  8. É quando o homem defende suas falácias. Um grau muito perigoso, do qual é muito difícil retornar. São Bernardo escreve: "Até agora, os orgulhosos não fizeram nada além de praticar o orgulho, mas quando chegam aqui o transformam em teoria. O mal parece bom." Uma coisa é pecar, outra mil vezes pior é elaborar uma teoria para demonstrar que essa ação não é realmente um pecado, mas algo bom e meritório. As semelhanças com o segundo binário inaciano são evidentes. Olá comenta: "Quando as coisas mudam de nome, quando o mal parece bom ao homem e o bem parece mau, então ele afunda em um pecado que é mais tenaz, frio, mais pesado, mais difícil de curar". Passar o bem pelo mal e vice-versa: o que vemos no dia a dia.
  9. A confissão simulada: aqueles que apresentaram suas falhas como algo bom agora vão até exagerá-las. "Longe de se desculpar, ele exagera sua culpa." A gota d'água, mas algo muito lógico se você pensar bem.
  10. Rebelião: "Aquele que antes se acusava sem verdade e sem humildade, agora tira a máscara e desobedece abertamente».
  11. A "liberdade" do pecado: "todos os grilhões foram quebrados" e a pessoa se acredita livre fazendo a primeira coisa que vem à mente.
  12. O hábito de fazer o errado: "o costume vem e depois tudo acaba».(Fonte: INFOCATOLICA)