Santa Catarina de Siena

01/02/2023

Doutora da Igreja, Padroeira da Itália, lutou  pela Cristandade e promoveu Cruzada contra os infiéis. Sua festividade é celebrada pela Igreja no dia 29 de abril.

No ano de 1347, Lapa Benincasa deu à luz duas gêmeas em seu vigésimo quarto parto. Uma delas não sobreviveu ao batismo. A outra, Catarina, tornar-se-ia a glória de sua família, de sua pátria, da Igreja e do gênero humano.

Giacomo di Benincasa, seu pai, era um tintureiro bem estabelecido, "homem simples, leal, temente a Deus e cuja alma não estava contaminada por vício algum"; piedoso e trabalhador, criava sua enorme família (25 filhos de um só casamento) no amor e no temor de Deus. Catarina, a penúltima da família e caçula das filhas, teve a predileção de todos e cresceu num ambiente moral puro e religioso.

Como a Providência divina tinha desígnios especiais sobre ela, desde cedo Catarina foi cumulada de favores celestes, privando com anjos e santos. Aos sete anos fez voto de virgindade, aos 16 cortou sua longa cabeleira para evitar um casamento, e aos 18 recebeu o hábito das Irmãs da Penitência de São Domingos. Aos 20 anos vivia já só de pão e água. Foi agraciada com favores sobrenaturais como o "casamento místico", recebeu estigmas semelhantes aos de Nosso Senhor, e teve uma "morte mística", durante a qual foi levada em espírito ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso; teve também uma "troca mística de coração" com Nosso Senhor.

Analfabeta, aprendeu a ler e escrever milagrosamente para poder cumprir a missão pública que Deus lhe destinava. Dirigiu um número enorme de discípulos, os caterinati, entre os quais se encontrava gente do clero, da nobreza e do povo mais miúdo. Um deles, o bem-aventurado Raimundo de Cápua, seu confessor, foi também seu primeiro biógrafo. É dele que sabemos pormenores dessa impressionante vida.

"Todos seus contemporâneos dão testemunho de seu extraordinário charme, que prevalecia ainda em meio da contínua perseguição à qual ela foi sujeita, mesmo da parte dos frades de sua própria Ordem e de suas irmãs em religião".

Como é impossível relatar num limitado artigo os inúmeros milagres, favores místicos, penitências, preces e atividades dessa Santa ímpar, limitamo-nos a ressaltar o aspecto público e providencial de sua missão.

O Evangelista São João e o Doutor Angélico dão-lhe lições

Santa Catarina de Siena - Obra de Sano di Pietro, séc. XV. Bonnefantenmuseum, Maastricht (Países Baixos). (ao lado)

Catarina amava apaixonadamente a Igreja Católica e sofria vendo seus males. Suas obras externas consistiam até então em assistir os pobres e doentes e dirigir seus discípulos. Mas era chegada a hora de ela também, a exemplo do Divino Mestre, começar a sua vida pública. Para isso, recebeu ordem formal de Nosso Senhor, que lhe prometeu sustentá-la com sua graça. Que ela nada temesse.

Ora, no fim da Idade Média - período em que a gloriosa civilização cristã já decaía a olhos vistos - a Itália era um aglomerado de pequenos reinos e repúblicas que muitas vezes viviam em guerra entre si, ou guerras entre facções contrárias em uma mesma cidade. Catarina foi chamada várias vezes para ser o árbitro entre elas ou seu anjo pacificador. Assim, viajou de Siena para Florença, Lucca, Pisa e Roma como pacificadora.

"Sem nenhuma experiência política, coloca-se em face dos mais altos poderes de seu tempo. E não roga; exige, manda: 'Desejo e quero que façais desta maneira [...] Minha alma deseja que sejais assim [...] É a vontade de Deus e meu desejo [...] Fazei a vontade de Deus e a minha [...] Quero'. Assim falava à rainha de Nápoles, ao rei da França, ao tirano de Milão, aos bispos e ao Pontífice. [...] Em seu semblante há algo que intimida e seduz ao mesmo tempo".

Não é de admirar, pois, como ela mesma escreveu em uma de suas cartas, "tomei lições, como em sonhos, com o glorioso evangelista São João e com Santo Tomás de Aquino".

Florença revoltara-se contra a Santa Sé e mais de 60 cidades dos Estados Pontifícios juntaram-se a ela. O Papa lançou um interdito sobre essas localidades. Revoltas se seguiram.

Catarina entra como mediadora entre o Papa e os conjurados. Começou assim uma correspondência incessante com o Papa Gregório XI, cheia de piedade e amor filial, cada vez mais premente, em favor dos súditos dos Estados Pontifícios que se tinham rebelado contra ele: "Santíssimo e dulcíssimo Pai em Nosso Senhor Jesus Cristo [...] Ó governador nosso, eu Vos digo que há muito tempo desejo ver-vos um homem viril e sem temor algum. [...] Não olheis para a nossa miséria, ingratidão e ignorância, nem para a perseguição de vossos filhos rebeldes. Ai! que a vossa benignidade e paciência vençam a malícia e a soberba deles. Tende misericórdia de tantas almas e corpos que morrem".5

Santidade que se exprime no espírito de Cruzada

Santa Catarina exorta o Papa Gregório XI a voltar a Roma - Obra de Sebastião Conca, séc. XVIII.

Ansiava ela pela pacificação da Cristandade para que, unidos, os cristãos se dispusessem a seguir em uma cruzada para libertar os Santos Lugares.

"Dois grandes pensamentos agitavam a alma de Catarina: a pacificação da Igreja, sua mãe querida, pela qual ela se sentia devorada de zelo e amor; depois, esse pensamento tão fecundo na Idade Média: a guerra santa das Cruzadas. [...] Ela via essa Cruzada, objeto de seus votos, recuar para bem longe em decorrência das discórdias que separavam os povos cristãos. - Foi talvez essa dor que consumiu sua vida".

"Ela implorou ao Papa Gregório XI que deixasse Avignon, reformasse o clero e a administração dos Estados Pontifícios, e empenhou-se ardentemente em seu grande desígnio de uma Cruzada, na esperança de unir as forças da Cristandade contra os infiéis e restaurar a paz na Itália, livrando-a de companhias [armadas] de mercenários que a assolavam".

Catarina censurou o Rei de França por guerrear contra cristãos e não empenhar-se na Cruzada: "Eu vos peço que sejais mais ativo para impedir tanto mal e ativar tanto bem, como é a recuperação da Terra Santa e daquelas almas infelizes que não participam do Sangue do Filho de Deus. Desta coisa deveríeis Vos envergonhar, vós e os outros senhores cristãos; porque é uma grande confusão diante dos homens e abominação diante de Deus fazer a guerra contra os irmãos e deixar [de lado] os inimigos; e querer tirar o que é dos outros e não reconquistar o que é seu. Eu vos digo da parte de Jesus Crucificado que não demoreis mais a fazer esta paz. Fazei a paz e fazei toda a guerra contra os infiéis".

Fim do "exílio de Avignon": fruto de seu zelo

Seu sucesso foi maior com relação ao fim do "exílio de Avignon". Com efeito, desde 1309, com Clemente V, o Papado havia sido transferido para aquela cidade francesa, de onde era dirigida toda a Cristandade. Já Santa Brígida, Rainha da Suécia, tentara em vão trazer o Papa de volta a Roma.

Em Avignon, diante dos cardeais, a intrépida Catarina ousou proclamar os vícios da corte pontifícia e pedir, em nome de Cristo Jesus, a reforma dos abusos.9 Gregório XI a chamava para dar sua opinião em pleno Consistório dos cardeais. Ela o convenceu a voltar para Roma. Apesar da oposição do Rei francês e de quase todo o Sacro Colégio, em 17 de janeiro de 1377 Gregório XI deixa Avignon. Ele ainda hesita no caminho, e ela o conjura a ir até o fim.

Mas a paz na Igreja não seria longa. Outra vez a república de Florença revoltou-se contra o Papa, que apelou para Catarina. Rejeitada por aquela cidade, a Santa quase foi martirizada. Por sua vez, Gregório XI, gasto, envelhecido, sofrido, não resiste e entrega sua alma a Deus.

Para ocupar o trono de São Pedro os cardeais elegem o Arcebispo de Bari, o qual toma o nome de Urbano VI. Conhecendo já Catarina e vendo nela o espírito de Deus, o novo Pontífice a chama para aconselhá-lo em Roma. E era muito necessário, pois alguns cardeais franceses, desgostosos da rigidez do novo Papa, voltam para Avignon, anulam a eleição de Urbano e elegem o antipapa Clemente VII. Inicia-se assim o chamado "Grande Cisma do Ocidente".

Catarina, através de cartas cheias de amor à Igreja e animadas pelo enérgico sentimento do dever, entrou em ação procurando ganhar reis e governantes da Europa para o verdadeiro Papa. Tentou inutilmente trazer de volta ao verdadeiro redil os três cardeais, autores principais do cisma. Catarina escreveu 150 cartas a cardeais, bispos e prelados, e 39 a Reis, Príncipes e governantes. À voz de Catarina de Siena, em favor do verdadeiro Pontífice, juntou-se a de outra Catarina, da Suécia, filha da grande Santa Brígida.

Angústia pelo futuro da Igreja

"As angústias que lhe causavam as revelações sobre o futuro da Igreja foram para Santa Catarina como uma paixão dolorosa. Ela clamava ao Senhor e pedia graça para essa Igreja, Esposa de seu Divino Filho. 'Tomai, ó meu Criador, este corpo que eu recebi de vossas mãos. Não perdoeis nem a carne, nem o sangue; rompei-o, lançai-o nas brasas ardentes; quebrai meus ossos, contanto que vos apraza ouvir-me em favor de vosso Vigário'".

Entre as coisas que Deus lhe revelava algumas eram sublimes, e outras, terríveis, como veremos abaixo. Ela pediu aos seus secretários que, assim que a vissem entrar em êxtase, anotassem suas palavras. Daí nasceu o livro do diálogo entre uma alma (a dela) e Deus, conhecido hoje em dia pelo nome de Diálogo.

Sarcófago de Santa Catarina de Siena, no altar mor da Igreja Santa Maria sopra Minerva, Roma

Pecado de homossexualismo: intolerável aos próprios demônios

Eis as palavras que Deus Nosso Senhor lhe dirigiu um dia:

"Filha querida, ao participar da Eucaristia, exijo de vós e dos sacerdotes toda a pureza que é possível nesta vida [...] sobretudo dos ministros. Mas eles fazem exatamente o contrário. Estão inteiramente imundos. E o pior é que não se trata apenas daquela fraqueza natural que a razão pode dominar quando a vontade o quer. Esses infelizes não somente não refreiam tal tendência, mas fazem algo de muito pior e caem no vício contra a natureza. São cegos e estúpidos, cuja inteligência obnubilada não percebe a baixeza em que vivem. [...] Esse pecado, aliás, não desagrada somente a mim. É insuportável aos próprios demônios, que são tidos como patrões por aqueles infelizes ministros. Os demônios não toleram esse pecado. Não porque desejam a virtude; por sua origem angélica, recusam-se a ver tão hediondo vício. Eles atiram as flechas envenenadas da concupiscência, mas voltam-se no momento em que o pecado é cometido".

Santa Catarina faleceu no dia 29 de abril, aos 33 anos. É Padroeira da Itália e foi proclamada Doutora da Igreja por Paulo VI, em outubro de 1980. (Por Agência Boa Imprensa https://www.abim.inf.br)