A Fraternidade São Pio X (FSSPX) publicou uma mensagem oficial por ocasião do 50º aniversário da Declaração de 21 de novembro de 1974.
São Tiago Menor, Apóstolo e Mártir
Considerado por São Paulo "uma das colunas da Igreja", concordou com o Apóstolo dos Gentios de que não se deveria impor o jugo da Lei judaica aos prosélitos pagãos. Os judeus o martirizaram por seu intenso apostolado, jogando-o do pináculo do Templo.
A identidade de São Tiago Menor, o "irmão de Jesus" e Bispo da Igreja de Jerusalém (At. 15, 21), se bem que contestada por muitos críticos protestantes, é considerada certa por nós, católicos. Disso não pode haver dúvida razoável, uma vez que o próprio São Paulo, seu contemporâneo, afirma em Gálatas 1,19: "Mas outros dos apóstolos [além de Cefas] não vi nenhum, salvo Tiago, o irmão do Senhor". Quer dizer, São Tiago Menor.
"Irmão de Jesus"
São Tiago — chamado comumente "o menor" para distingui-lo de São Tiago "maior", irmão de São João Evangelista — nasceu em Caná, na Galileia, onde Nosso Senhor Jesus Cristo operou seu primeiro milagre, a pedido de sua Mãe Santíssima. O seu nome vem do hebraico "ya'aqob", que significa "a quem Deus favorece". Era filho de Alfeu de Cleofas. Sua mãe, Maria — ou Maria Cleofas, como aparece no Evangelho — era irmã ou parente próxima da Santíssima Virgem, o que o fazia parente de Nosso Senhor.
Tiago tinha três irmãos (Mt 13,55), José, Simão e Judas. Esta enumeração certamente obedece à ordem de antiguidade dos mesmos, sendo, portanto, Tiago o irmão mais velho. Eles são chamados "irmãos" de Jesus.
Com relação a essa expressão, o saudoso arcebispo de São Paulo, D. Duarte Leopoldo Silva, explica no seu abalizado livro Concordância dos Santos Evangelho:
"Os judeus davam o nome de irmãos aos parentes mais próximos, como aliás se verifica em diversas passagens da Escritura. Lot é chamado irmão de Abraão, Jacó irmão de Labão, bem que fossem apenas seus sobrinhos. Misael e Elsafam, primos de Oziel, Tobias, primo de Sara, são chamados irmãos entre si. Assim também Tiago, José, Judas e Simão são chamados irmãos de Jesus, sendo apenas seus primos".
Esse uso, aliás, ainda predominava há pouco em alguns países como a Índia, onde chamam ou chamavam os primos-irmãos simplesmente de irmãos.
Acrescenta o ilustre Prelado, citando o Pe. Fouard: "O termo hebraico […] habitualmente traduzido por irmão, tem um sentido mais lato, e designa, ora um parentesco remoto (Gn 12,5; 13, 12, Nm 8, 26), ora uma comunidade de raça ou de pátria (Gn 9, 25; Nm 20,14 etc,) ora simples relações de amizade (2,Rs 1,26; 3 Rs 9,13 etc.)".
Já alguns hereges antigos, como Helvidio, sustentavam que os "irmãos de Jesus" eram os filhos de São José e da Virgem Maria. Essa opinião tem sido reavivada por hereges modernos, a maioria deles exegetas protestantes, que se baseiam em evangelhos apócrifos. Pelo contrário, nós, católicos, afirmamos que eles eram primos de Nosso Senhor por várias razões, entre as quais a antiguidade da crença na virgindade de Maria Santíssima.
Segundo a Legenda Dourada, de Jacques de Voragine, século XII, "Foi também chamado irmão de Nosso Senhor porque se assemelhava muito bem a Nosso Senhor em corpo, em visão, e nos modos. Foi chamado Tiago, o Justo, pela sua grande santidade […]. Cantou em Jerusalém a primeira missa que nela foi cantada, e foi seu primeiro bispo".
Bispo de Jerusalém
Como afirmado acima, São Tiago Menor foi o primeiro bispo de Jerusalém, que governou por 30 anos. Segundo a tradição, ele conquistou grande autoridade pela austeridade de vida, assídua oração e observância escrupulosa da Lei.
O próprio São Pedro reconhecia essa autoridade, pois após sair da prisão libertado por um anjo, ele se dirigiu à casa de Maria, mãe de João Marcos, e lhes disse: "Contai isto a Tiago e aos irmãos" (At 12, 12-17).
Segundo o site The Catholic Spirit,"Tiago presidiu o Concílio de Jerusalém em 51, e com grande sabedoria e compaixão, argumentou que os convertidos gentios não eram obrigados a seguir as leis alimentares judaicas (At 15, 13-21); devido à sua justiça, ele é também conhecido como Tiago, o Justo. Paulo se encontrou com ele em Jerusalém pelo menos duas vezes, uma no ano 37, depois de ter passado 15 dias com Pedro (Gl 1,18-19), e outra vez em 56, quando conferenciou com Tiago e os outros presbíteros (At 21,18). Paulo o chamou de 'pilar' da comunidade, juntamente com Pedro e João (Gl 2,9)".
São Paulo deve tê-lo encontrado pouco depois, e reconheceu sua autoridade, mencionando-o em sua visita a Jerusalém antes que todos os outros: Encontrei "Tiago, Cefas, João, considerados como as colunas" da Igreja de então (Gl 2,9).
São Tiago escreveu uma carta aos hebreus convertidos da diáspora, dispersos por vários países. É conhecida como a primeira "Epístola Católica", da qual nos ocuparemos adiante.
Martírio
O historiador judeu Flávio Josefo (37 ou 38 – ca. 100), em sua obra Antiguidades do Judaísmo,escrita no final do primeiro século, descreve o martírio de São Tiago. Também Santo Hegésipo (séc. II) — do qual diz o Martirológio Romano que "muito chegado aos tempos apostólicos […] compôs uma História da Igreja, desde a Paixão do Senhor até a sua época" — traz um longo relato desse martírio, que muitos julgam que se baseiam em algumas legendas. O historiador Eusébio de Cesareia — chamado "pai da História da Igreja — transcreve por inteiro esse relato em sua História Eclesiástica.
Segundo esses autores, como Albino, sucessor de Festo como procurador da Judéia, não tinha chegado ainda à Palestina, no ano de 62 o sumo sacerdote Ananias, o Jovem, vendo que os sucessos de Tiago suscitavam feroz oposição entre os judeus, convocou o Sinédrio, que o condenou à prisão, exigindo que ele renunciasse a Jesus Cristo. Como o Apóstolo recusou categoricamente, levaram-no ao pináculo do Templo, de onde o jogaram para uma multidão enfurecida que estava em baixo. Como o santo não morreu na queda, começou a ser apedrejado.
De joelhos, São Tiago rezava pelos que o apedrejavam. Então "um deles, mais corpulento, pegou um porrete dos que se usa para bater panos, e golpeou violentamente a cabeça do justo", matando-o instantaneamente.
São Tiago foi enterrado perto do Templo, onde ainda na época de Santo Hegésipo e Eusébio se encontrava seu monumento. E, segundo São Jerônimo, sua lápide permaneceu até o tempo do imperador Adriano (177-138), quando então se perdeu.
Seus restos mortais foram transferidos em 351 para uma igreja de Jerusalém, e depois transferidos novamente para outra igreja, na mesma cidade, construída sob o imperador Justino II (565-578), e a ele dedicada. Entretanto, isso colide com a notícia de que, no tempo do Papa Pelágio (556-561), foi construída uma basílica dedicada aos Apóstolos Tiago e Felipe, para abrigar seus restos mortais. Essa basílica foi completada pelo Papa João III e atualmente é dedicada aos Doze Apóstolos. Desde então a festa litúrgica dos dois santos era comemorada no Ocidente no dia 1o de maio, tendo sido transferida em 1955 para o dia 11, a fim de acomodar a festa de São José Operário no dia 1º. Uma revisão posterior do calendário mudou a festa para 3 de maio.
Epístola de São Tiago e Lutero
São chamadas de "epístolas católicas" ou "epístolas canônicas" as sete epístolas — uma de São Tiago, duas de São Pedro, três de São João e uma de São Judas — que constituem um grupo à parte no cânon do Novo Testamento.
Afirmamos com a tradição da Igreja e contrariamente ao que os protestantes defendem, que a primeira "epístola católica" foi escrita por São Tiago Menor, "o irmão do Senhor".
Já durante a pseudo-Reforma protestante, Lutero e alguns teólogos hereges diziam que ela não deveria integrar o Novo Testamento canônico, por contradizer a justificação pela fé pregada nas cartas de São Paulo. Foi por isso que Lutero tirou a Epístola de São Tiago de sua edição reformada da Bíblia, considerando-a apócrifa.
Realmente, em Romanos 3, 28, o Apóstolo afirma: "Porquanto sustentamos que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei".
Argumenta com propriedade o Pe. Matos Soares em sua edição da Bíblia (Livrarias Paulinas) que: "São Paulo fala da confiança depositada nas obras da Lei mosaica, como se elas, por si mesmas, pudessem merecer a salvação, a qual, pelo contrário, nos foi merecida e é aplicada somente por Cristo, ao qual nos unimos pela fé. O próprio São Paulo diz com frequência que a fé sem obras é morta, que para nos salvar, a fé deve ser vivificada pela caridade. Por outra parte, todas as recomendações relativas à vida e às virtudes difundidas ao longo de suas cartas, nos explica aquilo que ele tem em vista na prática."
Por exemplo, em 1Cor 13,2 o Apóstolo das Gentes afirma: "E ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e tivesse toda a fé, até o ponto de transportar montanhas, se não tivesse caridade, não seria nada."
Vejamos, por outro lado: "A tradição sempre o reconheceu [a São Tiago] como o autor da Epístola que leva o seu nome. Evidências internas baseadas na linguagem, estilo e ensino da Epístola revelam o seu autor como um judeu familiarizado com o Antigo Testamento, e um cristão profundamente arraigado nos ensinamentos do Evangelho. Provas externas dos primeiros Padres e Concílios da Igreja confirmaram a sua autenticidade e canonicidade".
Vejamos o ainda o que São Tiago diz no capítulo 1, 14-26, de sua Epístola:
"Que aproveitará, irmãos meus, se alguém diz que tem fé, e não tem obras? Porventura poderá salvá-lo tal fé? […] Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem do alimento cotidiano, e algum de vós disser: Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos — porém não lhe der as coisas necessárias ao corpo, de que lhe aproveitará? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. […] queres saber, ó homem vão, como a fé sem obras é mortal? Abraão, nosso pai, não foi ele justificado pelas obras, oferecendo seu filho Isaac sobre o altar? Tu vês que a fé cooperava com as suas obras, e que a fé foi consumada por meio das obras. E cumpriu-se a Escritura que diz: Abraão creu em Deus e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus. Vedes, pois, que o homem é justificado pelas obras e não pela fé somente? […] Assim como o corpo sem espírito é morto, também a fé sem obras é morta".
Os nomes de São Felipe e de São Tiago vêm no cânon da
Missa. Juntamente com São José, São Tiago é o santo padroeiro dos moribundos,
dos que limpam, encolhem e engrossam os tecidos, dos chapeleiros e dos
droguistas. (Fonte Agência Boa Imprensa
Durante a Eucaristia, a Rainha será lembrada e o Senhor será rezado para permitir que os católicos a tenham como intercessora, para unir espanhóis e latino-americanos no mesmo ideal de santidade. O rito moçárabe foi restaurado enquanto o confessor da rainha, o cardeal Francisco Jiménez de Cisneros, era bispo de Toledo.