"Servos de Cristo e Mordomos dos Mistérios de Deus"
Foi o que nos escreveu São Paulo em sua Primeira Carta aos Coríntios: "Irmãos, vejam em nós servos de Cristo e mordomos dos mistérios de Deus. Esta é a nossa "Vocação" e, portanto, a nossa "Missão" como Sacerdotes. E não é diferente.
Por Padre José Luis Aberasturi
Como é lógico e perfeitamente compreensível, dirige-se de modo particular aos membros da Hierarquia da Igreja, de todos os tempos, em todas as circunstâncias e em todos os lugares. É a Doutrina PERENNIAL na Igreja. Portanto, isso não pode mudar, nem pode ser mudado. E se alguém quiser, você tem que responder que "laranjas da China", ou "eu te vi".
Nesta ocasião, São Paulo continua: "Ora, o que se procura num mordomo é que seja fiel. Ele deixa bem claro: não pode mudar nem ser mudado: a nós, sacerdotes, somos convidados, acima de tudo e como primeiro horizonte da nossa vida sacerdotal, a sermos FIÉIS ao dom recebido.
Para que ninguém seja enganado – nem se deixe enganar pelo Diabo, pelo Mundo e pela Carne – ele delimita claramente onde deve estar o nosso lugar – e, portanto, a nossa vida – aqui na terra: Deus designou a nós apóstolos {refere-se a todos os membros da hierarquia eclesiástica} o último lugar, como aos condenados à morte, pois nos tornamos o espetáculo do mundo, dos anjos e dos homens.
É provável que tudo isto de São Paulo, muitos dos meus irmãos no Sacerdócio de Cristo e da sua Igreja, ao serviço da Salvação de todas as almas a quem chegamos directamente, com a nossa tarefa sacerdotal, não tenha sido ensinado desta forma.
Além, é claro, daquelas almas a quem alcançamos apenas indiretamente: pela influência de nossa Santidade pessoal, pelo valor de nossas Orações e Mortificações e pela influência real que nossa boa reputação exerce, muito além do que jamais saberemos. Bem, no Céu, se formos fiéis, saberemos tudo e venderemos. Mas temos que esperar até lá...
Mas tem São Paulo. E nós o temos à nossa disposição pessoal para nosso bom e completo ensino, e excelente acompanhamento doutrinário e espiritual. Porque temos todo o direito — toda a liberdade, que nos vem de Cristo — de ir beber das melhores fontes. Aliás, São Paulo é também fonte de toda a confiança. Especialmente se as águas que colocam sobre a mesa não são tão boas quanto deveriam. Como acontece em tantos lugares. E há tantos anos: desde o último Concílio.
É isso que temos que assumir como sacerdotes: ser o espetáculo do mundo, dos anjos e dos homens. Ad maiorem Dei gloriam!
Por isso, São Paulo aprofunda, trazendo para a vida prática de cada um de nós, aquilo a que devemos realmente nos comprometer como sacerdotes, com toda audácia e grande coragem. E escreve:
Somos tolos por causa de Cristo, vocês (os fiéis comuns) sensatos em Cristo, somos fracos, vocês são fortes, vocês são estimados, nós somos desprezados. (...) Somos maltratados e jogados de um lado para o outro, e estamos cansados de trabalhar com as mãos. Quando somos amaldiçoados, abençoamos; quando somos perseguidos, suportamos; Quando somos injuriados, respondemos com delicadeza. Tornamo-nos até agora como o lixo do mundo, como o lixo da humanidade.
Não sejais "vaidosos como um cupletista vaidoso": foi o que nos advertiu São Josemaria, fundador do Opus Dei. Longe de nós, tamanha ilusão. Não busqueis prazer: nem do mundo, nem de pessoas privadas, nem de nossos superiores imediatos, nem de nós mesmos: de ninguém.
Nossa vida sacerdotal e, portanto, nossa vida pessoal, deve ser passada diante de Cristo. Para mais ninguém. Algo que não passa por São Paulo sem nos avisar. Ele escreve:
No que me diz respeito, pouco me importa se sou julgado por você ou por qualquer tribunal humano. Nem eu mesmo julgo o meu desempenho. É verdade que a minha consciência não me censura com nada, mas não me acho justificado para isso. O Senhor será meu juiz. (...) Ele trará à luz o que está escondido nas trevas e desnudará as intenções do coração. Então o louvor de Deus virá para cada um. (...)
Assim aprendereis que "Não mais do que o que está escrito", para que ninguém se orgulhe de um apóstolo e despreze outro.
É a regra de ouro do nosso trabalho como sacerdotes: "Não mais do que o que está escrito"..
Tudo o que se desvia do que Cristo disse e fez – aprendei de Mim, é Ele que nos remete a Si mesmo – não é mais d'Ele. E, portanto, NÃO é de Deus. Também não pode pertencer à Igreja: a Igreja não pode sequer promovê-la; muito menos, assuma. E, para dizer tudo: nada que vá além disso pode servir e ajudar as almas. Pelo contrário: desconcerta-os. Ou os corrompe, automaticamente.
Nós, sacerdotes, devemos ter a Grandeza, que é uma Humildade certa, de não fingir ser outra coisa senão outro Cristo, o mesmo Cristo. Devemos perguntar-lhe, com a intercessão de nossa Mãe, a Santíssima Virgem, o que São Josemaria pediu, em um daqueles pequenos mas certos pontos, fruto de sua Vida Interior, com a qual cimentou sua santidade pessoal: "Senhor, que eu não seja eu, mas que eu seja aquele que Tu queres que eu seja"..
E enquanto estamos nisso, eu ousaria escrever, publicamente, como faço aqui, que todo sacerdote que não está disposto a viver dessa maneira, deve se dedicar a outras coisas: fará muito bem à sua alma, e fará muito bem a todas as almas. Como dizia um parente meu: "É melhor ser um bom cristão do que um mau padre"..
Para concluir, São Paulo conclui: "Não escrevo isto para vos confundir, mas para admoestar-vos como Meus filhos mais queridos. Mesmo que você tenha dez mil mestres para levá-lo a Cristo, você tem apenas um pai. Eu vos gerei para Cristo pela pregação do Evangelho. Exorto-vos, pois, a serdes meus imitadores, como imitei a Cristo.
Não precisamos olhar para ninguém além de Cristo: nosso Modelo, nosso único Modelo.
Qualquer outra opção é desastrosa, porque é errada: não faríamos nada além do Mal. (Fonte: InfoCatolica)